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Love
novembro 8, 2006, 11:54 am
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                                                                       Love, por Carol Neves                                                               

Love é uma livre adaptação do livro Ana Karenina, de Tolstoi. Feito em 1927, teria uma nova versão, falada, em 1935, com Garbo novamente no papel de Karenina. Realmente é difícil pensar na transposição daquele livre, denso, para um filme de 84 minutos, mudo. A história central permanece a mesma, assim como o caráter dos personagens, porém – assim como na versão que seria feita 8 anos depois – todo o pano de fundo sobre a Rússia rural some, assim como personagens secundários, para se concentrar somente no amor entre Vronski e Ana. Algumas mudanças acontecem para dar mais suspense à trama, como por exemplo a maneira que Ana e Vronski se conhecem, numa estalagem no meio do nada, em plena tempestade, um sem saber nada do outro… Isso depois de alguns minutos de filme em que Greta Garbo passou com o rosto coberto, apenas sugerido. Até que na estalagem de repente ela revela o rosto – e está lindíssima, reluzente… Algo na fotografia do filme faz com ela pareça mais luminescente do que em qualquer outro filme que eu tenha visto com ela.

Garbo empresta certa vulnerabilidade exigida pelo papel; Ana é sempre muito bivalente, meio fraca, cheia de dúvidas. Até mesmo a postura dos ombros, algo caída, desanimada, faz parte dessa composição. Além do quê, sempre enxergo certa melancolia em Garbo, que parece pular da tela diretamente para o telespectador que a observa…

John Gilbert, que chegou a ser noivo de Garbo na vida real (ela pulou fora do casamento), faz um Vronski meio almofadinha, com ferocidade e um quê de presunçoso. Tudo isso nos faz não ter muito apreço pelo personagem, apesar de certa impetuosidade simpática que aparece vez ou outra. Contra ele, ainda, um corte de cabelo dos mais ridículos que já vi e um bigodinho de porteiro. Grande parte dessas impressões, porém, sempre vêm com o Vronski, pra mim, desde a leitura do livro – ele é um personagem que transpira imaturidade. Pra mim, o amor de Ana sempre foi pra Vronski, em grande medida, uma extensão do seu ego.Porém, quando juntos, algo funciona entre os dois; os gestos parecem se complementar, como numa espécie de coreografia. É possível sentir algo no ar. E o primeiro beijo consensual dos dois é lindo, de encher os olhos, com movimentos perfeitos – se é que isso faz algum sentido, posto dessa forma.Cheguei até aqui sem ainda falar da história, por presumir que seja conhecida. Ana é casada com um nobre russo, Karenin, com quem tem um filho. Um dia conhece e se apaixona por um membro de exército, Vronski. Fica dividida entre deixar o filho e ir viver com o amante ou continuar vivendo uma vida de aparências, como quer seu marido. O final do filme tem, entretanto, uma mudança radical e significativa. Provavelmente pra combinar com esse nome, Love… Que vai e volta fica aparecendo nos mais estranhos dos brindes no filme.O filme gira entre o relacionamento de Ana e Vronski, que muitas vezes parece uma coisa voluntariosa dos dois, já que o desenvolvimento no filme é feito de maneira muito rápida, e a relação de mãe e filho, que é interpretado por Philippe De Lacy.Eu tinha lido na biografia da Garbo que existe uma parte física entre mãe e filho muito forte, um ar sensual, mas acho que não fiz idéia de como era. Na verdade, a parte mais tocante do filme é justamente quando ela está com o filho, em que o amor entre os dois parece escorrer da tela, muito mais interessante do que ela e Vronski. Alguns gestos entre eles parece mais de dois amantes, como o aquele clássico tirar os cabelos do rosto, acaricia-lo para então acontecer um beijo… Que acontece muito entre Garbo e De Lacy nesse filme. É tão afetuoso, warming, Garbo está tão maravilhosa…

É um filme muito agradável de se assistir e superior à versão falada, apesar de em uns poucos momentos tentar adquirir um tom de piada que não cola. E apesar, claro, dessa mutilação feita ao final clássico – tão marcante.

Ficha técnica:Love (1927)
Direção: Edmund Goulding
Produção: Irving Thalberg
Roteiro: Francis Marion, adaptado da novella Ana Karenina, de Tolstoi.
Fotografia: William Daniels
Legendas: Marion Ainslee e Ruth Cummings
Edição: Hugh Wynn
Elenco: Greta Garbo (Anna Karenina), John Gilbert (Vrosnki), George Fawcett (grão-duque), Brandon Hurst (Karenin) e Philippe De Lacy (Seryosha).
Duração: 82 min País: EUACor: Preto e BrancoSom: Mudo  



Em Seu Lugar
outubro 3, 2006, 9:11 pm
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Em Seu Lugar,  por Renata Cerqueira

Por se tratar de uma obra que aborda basicamente as relações humanas, Em seu lugar (In Her Shoes, 2005) não nos parece uma história distante ou deslocada do nosso cotidiano. É um filme que trata de temas que já escutamos de um amigo, que já vimos acontecer com o vizinho e que constantemente bate a nossa própria porta. Sem ficar presa a um caso específico, a trama se constitui em uma condensação de situações, problemas e sentimentos comuns a todos, principalmente àqueles que se relacionam e convivem diretamente com alguém. Embora não caia na superficialidade, o filme peca quando tenta comprimir temas,  tão ricos e diversos entre si, em uma seqüência de encadeamentos que não fazem justiça às possibilidades cinematográficas existentes em cada um deles.

O filme é construído a partir da história de Maggie (Cameron Diaz) e Rose (Toni Collette), duas irmãs que sempre foram muito unidas, embora fossem completamente diferentes uma da outra. Enquanto uma era vaidosa, festiva e irresponsável, a outra era séria, metódica e desleixada com a própria aparência. Com o desenrolar do filme, no entanto, essas diferenças foram compondo um panorama de alegrias, conflitos, descobertas e aprendizados para ambas as personagens. O resultado é um percurso que, embora tenha apelado para alguns estereótipos, foi retratado sem lições de moral, maniqueísmos ou mudanças milagrosas de comportamento.

Sem tirar a importância do diretor Curtis Hanson, muitos dos méritos existentes na obra se devem, na verdade, à Jennifer Weiner. Autora do livro em que o filme foi baseado e um dos grandes destaques norte-americanos na nova Literatura Feminina, Jennifer vem cativando leitores pelo mundo afora. Um dos momentos mais interessantes do filme, por exemplo, é quando a personagem de Cameron Diaz faz uma referência indireta à própria escritora, quando lê um de seus poemas, “One Art”. Enquanto declama os versos e ao som de uma melodia suave, as imagens de Cameron começam a se alternar com cenas de sua irmã, fazendo emergir o forte ar de tristeza inerente à seqüência. Uma cena que, sem contar com interpretações exageradas e diálogos entre as personagens, deixa claro tudo que está emocionalmente se passando naquele instante.

Diante de cenas assim e de temas que variam desde traição e mentira até reencontro e união, torna-se até difícil classificar o filme segundo apenas um gênero cinematográfico. Assim como as nuances presentes na vida humana, Em Seu Lugar se divide em momentos ligados ao drama, à comédia e, até mesmo, ao romance. No entanto, essa alternância de gêneros parece ser empregada aqui com uma dupla função: ao mesmo tempo em que atende à proposta mais realista da obra, ela também funciona como um dispositivo que reclama a atenção do público nos momentos em que a trama começa a se perder. Com uma duração de mais de duas horas e sem bons elos que estimulem a passagem de um desses momentos para o outro, o filme atrai muito mais pela abordagem que se faz de cada situação, sempre muito delicada e sutil, do que pelo tal panorama retratado pela própria obra.



Pernambuco nada árido…
setembro 27, 2006, 3:58 pm
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árido movie

Pernambuco nada árido…, por Gabriel Camões

Movimento “mangue beat”. Quem não conhece com certeza já ouviu falar.  Foi graças a ele que o estado de Pernambuco conquistou o seu lugar de centro da efervescência cultural nordestina. Resgatando facetas esquecidas, porém riquíssimas, da cultura popular do nordeste e aliando esses elementos ao Rock e a música eletrônica, os caras valorizaram a cultura de sua terra e reforçaram a identidade cultural, que hoje é admirada até fora do Brasil.

Nessa vertente caminha o último filme do diretor Lírio Ferreira, “Árido Movie” (Brasil, 2006), um perfeito representante da cultura “mangue” no cinema. Vencedor da categoria “melhor filme” no festival de Pernambuco deste ano, exalta de uma forma bem despojada todos os ícones e elementos que marcam a cultura pernambucana atualmente.

Essa reunião de ícones traduz muito bem o ambiente em que vive a galera do “mangue beat”, e isso se constrói de uma forma muito satisfatória no filme. Em outras palavras, “Árido Movie” tem potencial de se tornar “cult” para um público que se reconhece naqueles diálogos e que se encanta por cada momento da história, embora isso não garanta a perfeição na realização de uma obra.

“Árido Movie”, ao mesmo tempo em que tenta encontrar a fiel reprodução do que significa ser, em 2005, um típico pernambucano de classe média, vivendo na capital nestes padrões e que possui bagagem cultural acima da média, por outro lado busca reproduzir também a permanência de um conservadorismo readaptado nas cidades do interior.

A questão da identidade cultural parece ser o ponto em que Lírio quer dar mais atenção. Embora funcional e eficiente em muitos momentos,  eu acho que isso refletiu num excesso de coloquialismo, no que diz respeito ao uso no filme de expressões características do povo pernambucano. Faltou ao diretor ter a sensibilidade de em alguns momentos aliviar com o “pernambuquês”.
 
A trama em si é muito atraente. O protagonista é uma espécie de retirante bem sucedido. Jonas (Guilherme Weber) trabalha como homem do tempo numa grande emissora de TV em São Paulo. Quando o pai (Paulo César Pereio) que ele não vê desde criança é assassinado na fictícia cidade sertaneja de Rocha, Jonas se vê obrigado a voltar pra Pernambuco para enterrá-lo.

Com a dupla intenção de acompanhar o amigo “paulista” no seu momento difícil (e visitar terrenos férteis de maconha), três amigos de Jonas (Selton Mello, Gustavo Falcão e Mariana Lima), um trio de malucos, caem na estrada (referência clara aos “road movies”) e a partir daí se envolvem em situações das mais loucas, algumas sérias que deverão anular a impressão de que há uma alegre apologia à erva.

Um ponto que não poderia de deixar de mencionar… A atuação de Selton Mello. O ator destaca-se claramente na levada de um texto bastante coloquial e consegue se travestir genuinamente de pernambucano. Ele passeia no texto, encarna uma figura hilária e protagoniza a cena mais engraçada do filme, quando descreve minuciosamente a maneira perfeita de enrolar um baseado.

O filme nos apresenta um painel rico, mas ao que parece ali na tela, um pouco fora de controle. Não parece existir uma seqüência narrativa, o filme se perde e a história segue fragmentada, sem ligação consistente entre os vários núcleos de personagens. Cabe ao espectador sentir se essa fragmentação excessiva é boa ou não para ele e se isso prejudica o ato de apreciação da obra.

Por fim, penso que os vários elementos abarcados no filme e com grau de importância relevante na constituição da obra, como por exemplo, o peso e a força da paisagem árida, a riqueza cultural da capital e interior de Pernambuco e o suscitar da discussão do uso e produção da maconha, poderão fazer de “Árido Movie” um clássico das divergências entre fãs e críticos.



Eu vi uma comédia romântica e tinha uma terapeuta nela!, por Thiago Felix
setembro 17, 2006, 12:55 pm
Filed under: Cinema

Eu vi uma comédia romântica e tinha uma terapeuta nela!, por Thiago Félix

Não deve existir mais ninguém que fique realmente empolgado com a idéia de assistir a “mais uma comédia romântica americana” (principalmente se ela tiver um título tão desgraçadamente brega quanto “Terapia do Amor”). Para minha surpresa, lá estava eu na locadora prestes a levar para casa um exemplar deste, que para mim, é um novíssimo sabor de enlatado americano.

 

Lá vai a história: uma mulher de trinta e poucos anos recém separada, busca na terapia o alívio para sua perda, com o passar do tempo ela se envolve com um homem mais novo, algo em que sua terapeuta a apóia. Tanto a terapia quanto o relacionamento vão muito bem até que se descobre que a terapeuta e o namorado são mãe e filho (!) (pequeno parêntese, sinceramente não sei quem, em Hollywood, paga as pessoas pra ter este tipo de idéia, mas sei que essas mesmas pessoas tiveram a sacada de contratar Mary Streep para o papel da terapeuta, e a tarantinesca Uma Turman para protagonizar o filme, em que volta e meia fala coisas do tipo: “Você tem 22 anos? Eu tenho camisetas mais velhas que você!” ).

 

Não obstante o fato de a circunstância já ser, por si só, o samba do crioulo doido, eles ainda temperam a trama com o preconceito da família do rapaz por ela não ser judia, e o fato de ele ser um pintor em início de carreira, infantil e sem dinheiro. Esta aparente carência de curadoria empresta verossimilhança com os problemas da vida real, certa profundidade aos personagens e até algum charme a eles.

 

Não sei se é pela falta de familiaridade, mas o filme parece um pouco longo, já que os roteiristas não economizaram nas idas e vindas do casal. Diferente do que se costuma ver, eles não são “loucos-apaixonados-pra-vida-inteira”, sempre prontos pra se jogar da ponte se o outro não gostar do mesmo sabor de sorvete.  Os personagens inclusive ficam indecisos, sem saber se o namoro ultrapassará a barreira do sexo casual para se tornar um problema definitivo na vida dos três.

 

O filme ainda tem o trunfo de se ambientar em Manhatan e fica se aproveitando disso para esboçar aquela atmosfera maravilhosa dos filmes de Woody Allen; o que ,convenhamos, é bastante bom. A personagem da Uma Turman é bastante culta, trabalha com moda e namora um pintor, óbvio que isso é uma porta aberta para algumas de referências que vão de Freud a John Coltrane. O filme tem ainda ótimos figurinos para a ótima atriz, que está linda e que na época estrelava a campanha de uma famosa grife de roupas. Ainda no capítulo moda repare na aparição relâmpago de ninguém menos que Tom Ford, um dos maiores nomes do mundo da moda, que aparece quase furtivamente.

 

Terapia do amor, que originalmente se chama Prime, surpreende pela abordagem do universo feminino, por ser mais inteligente que a maioria, por trazer um ótimo humor, pelas boas atuações, pela trilha sincera e por economizar no happy end… Mas ainda tem bastante da graça dos estúdios especialistas em explodir o mundo.



Premonição 3, por Carol Neves
setembro 17, 2006, 12:53 pm
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Premonição 3, por Carol Neves

Premonição é um filme atípico; como um filme que tem o mesmo mote de seus predecessores continua a interessar o público, fazer sucesso e mantém a franquia viva? Ao contrário de filmes de terror adolescentes com os quais guarda certa similaridade, como Pânico ou Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado, Premonição não se preocupa especialmente com a continuidade; os filmes da série não têm necessidade de continuar de um ponto específico e sempre começam do zero, embora ocorra ocasionalmente uma menção a fatos ocorridos anteriormente.

 

O que não muda no filme são os pressupostos: o filme começa, alguém tem uma premonição em algum lugar que proporcione situações de tensão (no primeiro foi um avião, no segundo uma rodovia), metade dos personagens consegue se esquivar da morte, metade morre. As “regras do jogo” todos sabem: a morte vai atrás daqueles que sobreviveram, na ordem que eles deveriam ter morrido originalmente, e mesmo que alguém consiga driblar a morte, isso não passa de um adiamento, pois ela sempre volta…

 

Este terceiro filme traz um pequeno adicional em relação ao material original que é o fato de fotos tiradas no dia do acidente revelarem a maneira como cada um vai morrer. Sim, tem muitas fotos – provavelmente um recurso de merchandising, já que a marca da câmera aparece a todo momento e a primeira meia hora do filme parece ser gasta só com isso.

 

O ambiente escolhido dessa vez foi o parque de diversões, que acaba se revelando muito óbvio. De maneira nada sutil, surgem imagens de diabos gigantescos, trem fantasma, ao som de músicas “de tensão”.

 

OK, ao filme, então.

 

Os piores atores entre os três Premonição (tanto no quesito atuação quanto na falta de carisma), diálogos sofríveis, roteiro confuso por conta daquela historinha das fotos, que acaba sendo muito forçada. Sim, eles conseguiram deixar furos num roteiro de algo tão simples quanto “ser perseguido pela morte e morrer”.

 

Mas não é tão ruim quanto parece – ou talvez seja, e daí a graça. O filme entra, sim, na categoria daqueles que de tão ruins você se diverte vendo. Os diálogos nonsense (como as duas patricinhas do colégio, que dias depois do acidente que matou metade da classe de formando vão se bronzear “em homenagem aos colegas”) acabam dando certa graça ao filme, embora às vezes eles sejam apenas ruins de doer mesmo.

 

Enfim, permanece aquele que é o grande motivo para os filmes Premonição continuarem vivos: a curiosidade mórbida para ver como os personagens vão morrer. Esse filme não tem aquela tensão a la Pânico de “será que ele mata a Sydney?”. Não, você sabe que todos vão morrer e só resta sentar na cadeira, caprichar na pipoca e conferir a criatividade dos roteiristas dessa vez – no caso desse terceiro filme, média, com algumas mortes muito insignificantes e repentinas e umas deliciosamente cruéis. Acaba valendo a pena.



STOP
setembro 6, 2006, 3:40 pm
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              STOP   por Nina Atalla

Não há dúvida de que toda história tem uma moral. O lugar onde ela se encontra é que difere. Pessoalmente, se a história não envolver uma raposa e uma lebre, me causa certo receio quando a moral serve para tematizar a narrativa, vira moralismo, verdade fácil. É o que acontece com o filme “Click”. Adam Sandler, fazendo papel de “Adam Sandler”, é um cara que se sente oprimido diante da vida.

Dividido entre a família e o trabalho, o esforço nunca parece suficiente para que as coisas fiquem equilibradas nos dois setores. Como todo mundo, o personagem fantasia com uma solução milagrosa para seus problemas, gostaria de ter um controle maior sob seu tempo e sob as circunstâncias, conflito moderno básico. Daí, surge o mote do filme.

Numa introdução bizarra do motivo, o personagem ficar irritado porque não consegue nem ligar a TV, em meio a tantos aparelhos eletrônicos, fica difícil saber qual controle remoto serve para cada apetrecho tecnológico. Desiludido com a dificuldade de executar as coisas mais rotineiras, ele decide comprar um controle remoto geral. Mas ao chegar na loja se depara com um controle que não apenas serviria para ligar e desligar aparelhos eletrônicos, mas também para dirigir certas situações da vida.

O controle remoto geral pode ser usado para congelar ou acelerar o tempo, ver cenas passadas da vida presencialmente e, até para dar “mute” na esposa que reclama. Admirado com o poder de interferir em aspectos antes impensados, o personagem começa a acelerar as situações que lhe pareciam penosas. O problema é que o controle se auto-programa e começa a repetir os padrões de escolha do personagem involuntariamente. Quando ele acelera o tempo para ganhar uma promoção, por exemplo, dá margem para que todas as outras vezes que ele estiver prestes a subir na empresa, os meses passem rápido. Assim, ele vai perdendo boa parte da vida.

O problema do argumento do filme, que se propõe a discutir modos de vida, é não prestigiar as nuances do cotidiano. Só existem dois momentos, o que você está entediado e o que está extraordinariamente feliz, uma espécie de epifania do cotidiano. Todos sabemos que o segundo não existe, e você fica se sentindo subestimado por um filme que se utiliza de um motivo bizarro para dizer que esse não é apenas um problema seu, mas de toda a sociedade ocidental.

Eu entendo que há momentos em que realmente esquecemos um pouco disso, mas no fundo todos sabemos, a não ser que seja o caso de uma doença depressiva. Além do mais, o filme se estende no melodrama. Há cenas bastante apelativas e, até bregas. Aquela coisa do cinemão americano, que quer te enfiar pela goela algum tipo de sentimento. E isso, é o pior do filme, porque até aí, nada demais. Eu fui lá sem esperar uma argumentação bem construída mesmo, para ouvir umas piadas, que ora são inteligentes, ora de mal gosto, normal. Mas sentimentalismo barato, por sentimentalismo barato, eu fico com a Camilinha hemofílica do Manoel Carlos, não preciso sair de casa, não gasto dinheiro, e ainda por cima, se eu me sentir eventualmente brega, posso chorar no esconderijo do meu lar. Tudo isso dá um pouco de raiva, mas ponderando um pouco,  “Click” não é um filme que te deixa muito entediado.

Você fica lá embasbacado, pelo menos isso. Mas daí a fazer como a professora de literatura de uma amiga minha, que disse “ Nossa, esse filme é uma lição de vida”, já é demais. Licões de Vida me cansam imensamente, na verdade. Sou mais da ironia, do desconcerto e da surpresa. Outro tipo de moral…