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O Pistoleiro, Vol. 1 da série A Torre Negra, por Ian Castro de Souza*
Apresentando o panorama de um futuro pós-apocalíptico, Stephen King, um dos mais renomados mestres de horror que a contemporaneidade conhece, trouxe ao mundo, em 1978, a primeira edição de O Pistoleiro (The Gunslinger originalmente), o primeiro de uma série de sete livros, denominada A Torre Negra. Pode-se dizer que tal obra é, no mínimo, curiosa, pois condensa habilmente características dos gêneros de ação, suspense, terror e ficção científica num complexo enredo que leva o leitor a reflexões sobre o rumo auto-destrutivo que a sociedade está traçando.
O Pistoleiro trata-se, basicamente, da jornada de Roland, o último representante dos Pistoleiros (oriundos da Gilead), em busca do Homem de Preto, um obscuro sujeito – não propriamente um homem, mas sim um dos muitos enigmas propostos pela trama – que detém as respostas capazes de findar o processo de definhamento no qual o mundo em que vivem se encontra. As respostas que podem conduzir Roland a sua única e exclusiva razão de perdurar em seu caminho. As respostas que levarão o pistoleiro ao seu graal, a sua obsessão, ao trago que lhe foi privado: a Torre Negra, o eixo de todo o tempo e o espaço. Ao longo de seu caminho, a personagem principal se depara com personagens singulares como a “puta de rosto marcado” Allie, o pianista Sheb, o “comedor de erva” Nort, o fazendeiro Brown e seu corvo Zoltan, o garoto Jake e muitas outras personagens entre as quais o Ka – uma espécie de força absoluta que traça os caminhos dos seres vivos e não-vivos, vulgo Destino para os que crêem neste – designará aqueles que deverão segui-la em sua jornada, seu Ka-tet.
Até seu encontro com o Homem de Preto, Roland enfrentará situações estranhas, difíceis e até macabras: perdas, ganhos, mortes, conjurações espirituais; situações que ratificarão ao leitor o título de Pistoleiro dado a Roland e construirão em seu imaginário um mundo em ruínas, um mundo atemporal, um mundo no qual as distancias se distorcem e noites e dias tem durações variáveis, um mundo no qual um homem vaga sozinho por 1, 10 ou 100 anos…um mundo no qual não há certeza do “ontem”, do “hoje” e nem do “amanhã” mas há uma certeza absoluta: siga a Oeste e continue no feixe que leva á Torre Negra.
O mundo criado por King se faz interessante por ser, teoricamente, o mundo que conhecemos fisicamente – retificando: o que restou dele – mas não no mesmo “momento” ideológico que norteia a sociedade nos atuais dias. É um mundo que, nas palavras de King, “seguiu adiante” e tornou-se um lugar onde se unem magia e tecnologia numa fusão absolutamente intrigante e genial – fundamentada pela instauração de um mundo no qual a razão e a ciência foram substituídas pelo medo, a superstição e a ignorância. Este mundo propõe uma idéia muito forte – talvez a mais forte – da obra: a “regressão humana”. O gênero humano “evoluiu” – o emprego desta palavra aqui, apesar de antitético, é válido – até um ponto tal em que se auto-destruiu, eliminando todo o avanço intelectual humano que se deu a partir da modernidade e regredindo a um mundo no qual se temem as bruxas e os magos. Um mundo resultante da busca incessante pela “evolução” que, ironicamente, resultou na regressão tecnológica e ideológica do homo sapiens.
As personagens apresentadas possuem uma dosagem extremamente alta de realidade e “sinceridade” (talvez esta não seja a palavra mais adequada mas transmite exatamente a significação que pretendo demonstrar) que, muitas vezes, transformasse em grosseria – e sua linguagem, vulgar, não ameniza tal fato. Personagens como Allie, uma prostituta da cidade de Tull com a qual Roland se envolveu, são descritos de forma distante, analítica e detalhada, sempre ressaltando suas piores características – o que, ironicamente, traz uma solidez infinitamente superior ao objeto descrito do que o contrário. “Ela o encarou e talvez tivesse sido bonita quando começou, mas o mundo não parara o tempo. Agora o rosto estava todo marcado e a cicatriz esbranquiçada da testa parecia uma rolha. Ela a cobrira com muito pó-de-arroz e o pó chamava ainda mais atenção para o que pretendia camuflar.”, essa é a descrição de Allie, uma descrição que, não obstante cruel pra alguns, gera um sentimento imediato de identificação com a personagem e a eclosão inconsciente de um pensamento: “pessoas como esta existem”.
Na obra é notória a fusão bem sucedida do conceito de “novo” e o de “antigo”, de retrógrado e de atual. Roland, por exemplo, é o retrato de um cowboy. Mas não um cowboy tradicional como podemos ver nos antigos filmes de Clint Eastwood e sim um guerreiro que aprendeu a manejar seus revólveres (antigos modelos dotados de cabos de sândalo e capazes de disparar apenas 5 tiros) em prol da honra e da justiça – com muita disciplina e método, diga-se de passagem; quase como um samurai se tal comparação me for perdoada por vocês, caros leitores. Junto a estes conceitos (antigos) que identificam e particularizam Roland coexistem as habilidades surreais da personagem como invocar espíritos ou usar “O Toque” (espécie de semi-telepatia), além de muitas outras habilidades que ratificam o caráter não inovador, e sim original da personagem.
Percebe-se também que, em O Pistoleiro, durante a construção da realidade da obra são estabelecidas constantemente “pontes”, através de uma série de referências, com o mundo real e contemporâneo. Em sua maioria estas referências são musicais, como o nome de uma cidade onde o protagonista passa, Tull (que provém do nome de um grupo de rock chamado “Jethro Tull”, muito conhecido no âmbito social dos EUA durante a década de setenta) ou até a internacionalmente conhecida música dos Beatles, “Hey Jude” – citada exaustivamente durante o decorrer da narrativa. Também está presente na obra a referência geográfica. Durante travessia de Roland por um deserto, por exemplo, é fácil para um leitor, com o mínimo de atenção e conhecimento sobre a geografia dos Estados Unidos da América, perceber que se localiza na porção desértica dos EUA, onde encontra-se a cidade de Las Vegas – por sinal, a referência geográfica é praticamente uma assinatura de Stephen King, estando presente em outros livros como “O Talismã”, por exemplo. Porém existem referências críticas não tão explícitas ou óbvias como as anteriormente citadas. A “Erva do Diabo”, por exemplo, é apresentada durante a narrativa como um abundante vegetal de pequeno porte que, quando queimado, acreditava-se que liberava demônios que “hipnotizavam, chamavam, acabavam puxando quem olhasse para as chamas”, nas palavras do autor – qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência…ou não.
Diferente da maioria das obras de Stephen King, O Pistoleiro, assim como toda a série A Torre Negra, é uma grande obra que, como dito anteriormente, oferece ao leitor uma narrativa repleta de ação, mistério e ficção que propõe, além de entretenimento, cuidadosa reflexão social. È importante ressaltar que o livro, desde seu lançamento até os atuais dias, não agrada os fãs tradicionais do autor – que esperavam a mais pura manifestação do terror, como em todas suas outras obras – mas conquistou inúmeros novos fãs ao redor de todo o planeta tornando-se mais um sucesso a ser atribuído a Stephen King.
*graduando em Comunicação Social com habilitação em Produção Cultural
3 Comentários so far
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Eu li esse livro, não estava reconhecendo, pois a capa editada pela Objetiva é diferente.
Sinceramente, achei um suspense infantil. A narrativa não parece ser de Stephen King, as cenas em que o pistoleiro chega ao vilarejo no deserto atrás do homem de preto são fracas!
Vamos dar um desconto, pois se não me engano ele o escreveu aos 19 anos…rsrs
Bye, bye.
Comentário por Divina janeiro 18, 2008 @ 12:30 amSomehow i missed the point. Probably lost in translation 🙂 Anyway … nice blog to visit.
cheers, Earthiness.
Comentário por Earthiness junho 19, 2008 @ 2:32 amI see no holy behind Mooslim has said one thing. You cannot prove me wrong because it came from the Islamic words of Allah and Prophet Muhamad bin Ab Click https://zhoutest.wordpress.com/
Comentário por clevelandrodriguez abril 9, 2016 @ 7:08 am